1º Domingo da Quaresma: “Jesus jejuou durante quarenta dias e quarenta noites, e, depois disso, teve fome!”

LEITURAS: Gn 2,7-9;3,1-7 / Sl 50 / Rm 5,12-19 / Mt 4,1-11

Os evangelistas narram que depois de receber o batismo Jesus foi “conduzido” para o deserto onde esteve por 40 dias. Mateus e Lucas narram que neste período Jesus superou as tentações promovidas pelo diabo, o “acusador”, o “adversário”, o “caluniador”, pois o Espírito que o conduziu não o abandonou. Os quarenta dias são simbólicos e lembram os 40 anos que o povo hebreu passou pelo deserto saindo da escravidão do Egito e entrando na terra prometida.

Jesus passa pelo deserto jejuando e preparando-se para a sua missão pública. Sofre as tentações que são também as tentações que sofremos: transformar a pedra em pão pode ser entendida como a tentação do materialismo, pensando que nem é preciso cuidar do espiritual, nem viver os valores verdadeiros, nem agir para fazer crescer a alma humana; Jesus responde “não só de pão vive o homem”. Adorar o diabo e tomar posse do mundo é tentação do poder, na qual tantos de nós caímos por querer dominar e comandar os outros, possuir coisas e bens capazes de nos colocar acima dos outros e ter poder sobre eles; Jesus ensina “adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás”. Atirar-se do alto do templo é a tentação de colocar-se no lugar de Deus para mudar a ordem da natureza, seja acreditando que somos “donos” da natureza e por isso fazemos o que queremos, seja por exigir que Deus faça a nossa vontade; Jesus responde “não tentarás o Senhor teu Deus”.

Jesus não cai nas tentações porque se recusa a usar indevidamente a condição de Filho de Deus e fazer a sua própria vontade. Ele tem consciência de ser enviado pelo Pai para cumprir o amor pleno por toda a humanidade e não se deixa corromper. Na idade adulta Jesus dá sinais de plena consciência da lógica divina que é bem diferente daquela humana que só pensa o material e o domínio dos outros e da natureza.

Foi assim que a humanidade se afastou de Deus e entrou no pecado. A primeira leitura narra a infidelidade do homem e da mulher que receberam a vida de Deus, mas que quiseram fazer a própria vontade. A ação criadora de Deus evidencia o seu amor infinito, seja por seus filhos e filhas, seja por tudo que foi colocado no “jardim” com suas “árvores de aspecto atraente e frutos saborosos”. Por isso, o jardim foi descrito como paraíso cheio de vida. A desobediência não se limita a comer um fruto, mas está no deixar-se corromper, querer fazer a própria vontade e não reconhecer a presença e a bondade de Deus.

Na segunda leitura São Paulo escreve aos Romanos anunciando que a fidelidade de Jesus salvou a humanidade infiel. Jesus, bem ao contrário de Adão, superou as tentações para servir a humanidade por amor e não dominar. Isto os cristãos de hoje podem aprender também: rejeitar o poder que domina e abraçar o serviço que salva; imitar Jesus que é fiel ao Pai na construção do Reino contra toda injustiça e receber dEle o “dom gratuito e superabundante da justiça”.

Frei Valmir Ramos, OFM