Solenidade da Epifania do Senhor: “Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo!”

LEITURAS: Is 60,1-6 / Sl 71 / Ef 3,2-3a.5-6 / Mt 2,1-12

Acredita-se que inicialmente os “reis magos” vinham da Pérsia e eram um tipo de sacerdotes ou sábios ou astrólogos, observadores dos astros celestes. O texto do profeta Isaías (Is 60,6) fez a tradição enxergar nos “magos” vindos do oriente como “reis”. Eles chegam em Jerusalém e perguntam “onde está o rei dos judeus que acaba de nascer?”. Não só a presença destas visitas inesperadas causa inquietação, mas principalmente a pergunta pelo rei que acabava de nascer. Herodes, que era o rei, quer saber detalhes porque não admite um sucessor concorrente. Os visitantes captam suas intenções e voltam para casa “seguindo outro caminho”.

Os “magos do Oriente” foram guiados por uma estrela diz o texto. No Antigo Testamento vemos o anúncio de uma “nova estrela” (cf Nm 24,17) que não seria simplesmente um novo fenômeno astral, mas um “rei”. De fato, encontram um “menino com Maria, sua mãe” e o reconhecem como um Deus. Por isso “se ajoelham diante dele e o adoram”. O Salmo 71, rezado em uma ocasião importante para um rei descendente de David, é interpretado com referência a Jesus, que veio com um reinado universal, de justiça e paz, de salvação e libertação, contra os opressores e a favor dos pobres.

Aí está a manifestação de Jesus, que nasceu para salvar todos os filhos e filhas de Deus, sem olhar a qual nação ou raça pertençam. O profeta Isaías havia anunciado a glória de Deus sobre Jerusalém como “luz” para todos os povos. Com isso Isaías indica a presença de Deus que manifesta a sua glória naquela cidade onde atrairia povos e reis. Ao mesmo tempo, indica que brilhou a luz não apenas para um grupo seleto, restrito aos mais fervorosos seguidores da Lei, mas a todos os povos, incluindo os considerados “infiéis”.

O autor da Carta aos Efésios faz ver como de fato o Salvador se manifesta a todos dizendo que “os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho”. Este é o ensinamento para todos os cristãos, pois nenhum deles pode ter a pretensão de tomar posse da salvação ou restringi-la ao seu próprio grupo. Com esta compreensão, a tradição cristã fez os três reis aparecerem como raças e cores diferentes.

A manifestação de Jesus não se dá com poderio e a partir do centro, mas vem da pequenina cidade de Belém, de onde os poderosos e os doutores não esperavam. A glória de Deus se manifesta, então, a partir da humilde presença do Salvador como menino recém-nascido e colocado em uma manjedoura. Por isso mesmo, a Igreja, como comunidade missionária, é chamada a anunciar a presença do Salvador entre todos os povos estando do lado dos mais pequeninos e humildes que mais enfrentam as trevas deste mundo e são as primeiras vítimas das injustiças e desmandos dos Herodes dos nossos tempos.

Frei Valmir Ramos, OFM